São diversos os fatores que podem explicar a baixa participação feminina nesses espaços, entre eles, a tripla jornada (trabalho remunerado, tarefas domésticas e tarefas do cuidado); falta de apoio financeiro e outros pelos partidos políticos; ausência de referências femininas de ocupação do poder; violência doméstica, sexual e assédios. Ao nascer, as mulheres já se encontram em desvantagem em relação aos homens. Essa desigualdade vai acompanhar as mulheres na trajetória de vida, em termos das oportunidades e do nível de poder. Se ela for pobre, de raça negra, indígena, com outra orientação sexual e identidade de gênero, a situação vai piorar ainda mais. A raiz dessa injustiça milenar está na forma equivocada com que se aprende as noções de feminilidade e masculinidade. São as relações sociais de gênero que colocam a mulher em situação de subordinação ao homem. Trata-se de uma construção social, reforçada pela cultura e que vem sendo mantida historicamente por milênios. Assim há a necessidade de se empoderar as mulheres em termos psicológicos, emocionais e financeiros, visando um mundo mais equilibrado entre mulheres e homens, o que será benéfico para toda a sociedade.
Empoderamento é a capacidade da pessoa realizar, por si mesma, as mudanças necessárias para evoluir e se fortalecer (Paulo Freire). O processo de empoderamento se dá através da conscientização de que todas as pessoas são iguais em direitos e deveres; que os direitos das mulheres nada mais são do que direitos humanos; que o corpo da mulher a ela pertence e isso deve ser respeitado; que uma vida sem violência é um direito das mulheres; que existe Lei para punir os crimes de violência doméstica, violência sexual, assédio, tráfico para fins sexuais; que a informação de qualidade é fundamental na trajetória de vida… Para tanto, é preciso buscar: elevar a autoestima gostando de si mesma, cuidando-se, valorizando-se e aprendendo coisas novas; novos cursos; equilibrar as diferentes dimensões da vida – física, emocional, profissional e espiritual; se unir a outras mulheres e considerar as diferenças das pessoas e das opiniões como um rico caminho de aprendizado; aproveitar os conhecimentos e habilidades para atingir aspirações e gerar renda, visando a autonomia financeira e satisfação pessoal.
Este projeto é importante para que mulheres e meninas das áreas periféricas urbanas e rurais busquem ocupar e transformar os espaços de poder e decisão. Os estereótipos discriminatórios – de gênero, raça, etnia, orientação sexual, identidade de gênero, etc. – precisam ser desconstruídos em todos os espaços: dentro de casa, na rua, nas escolas, nas igrejas, nas leias, nas instituições públicas e privadas, na literatura (na escrita e nas imagens), nos meios de comunicação de massa… Para o processo de desconstrução, é preciso a sensibilização e a conscientização dos preconceitos e das discriminações, principalmente dos vieses inconscientes, que são “as preferências que ficam escondidas no inconsciente e que influenciam as atitudes, as percepções, os julgamentos e as ações das pessoas sem que elas percebam que estão dando vantagem para um determinado aspecto”. Nada melhor do que a metodologia de educação popular feminista que vai trabalhar aspectos teóricos da problemática, mas, principalmente, aspectos emocionais, que levarão à sensibilização e o impulsionamento para a busca de recursos necessários para alterar a realidade vigente.
Lembre-se: lugar de mulher é onde ela quiser! Por que não nos espaços de poder e decisão?