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Ações contra a violência doméstica, numa perspectiva de paz, junto com mulheres e homens, foram debatidas em Porto Alegre
- 17/05/2012
- Postado por: Associação Mulheres pela Paz
- Categoria: Acervo Publicações | Podcasts
por Nilza Scotti (assessora de imprensa) | edição: Vera Vieira
Representantes de várias organizações de mulheres e de homens estiveram reunidos durante dois dias, em Porto Alegre, debatendo ações de combate à violência contra as mulheres sob a perspectiva da paz. Nos dias 9 e 10 de junho, a Associação Mulheres pela Paz, Campanha Ponto Final na Violência contra as Mulheres e Meninas, Rede Feminista de Saúde, Rede Mulher de Educação realizaram a oficina ‘Redefinindo Paz – Violência Doméstica: construção de metodologia de educação popular feminista específica para trabalhar com mulheres e homens’, com o apoio da Casa de Cultura Mario Quintana, Memorial do Rio Grande do Sul, e secretarias estaduais de Cultura e de Políticas Públicas para as Mulheres e do Governo do RS.
Paralelamente, no dia 9, ocorreu a abertura da Exposição 1000 Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo e o lançamento livro Brasileiras Guerreiras da Paz, no Memorial do RS, na Praça da Alfândega, Centro da Capital gaúcha. A visitação da mostra fotográfica prossegue até o dia 9 de julho. Após a abertura da mostra, a presidenta da Associação Mulheres pela Paz e ativista dos direitos humanos das mulheres desde 1945, Clara Charf, e a desembargadora Maria Berenice Dias, uma das brasileiras e única gaúcha indicada ao prêmio Nobel da Paz, autografaram o livro Brasileiras Guerreiras da Paz.
Avanços ainda não são suficientes
“Nestes anos, ocorreram muitos avanços, principalmente com a Lei Maria da Penha, e as mulheres estão denunciando mais quando há violência doméstica, mas não o suficiente ainda”, afirmou Clara Charf. Maria Berenice Dias homenageou Clara com parte da letra do Hino do RS, “…Sirvam suas façanhas de exemplo à toda Terra”. Acrescentou que a paz no mundo virá pelas mãos das mulheres. A secretária executiva da Rede Feminista de Saúde, entidade que coordena a Campanha Ponto Final, Telia Negrão, também destacou os avanços na luta pela paz. Acrescentou que as parcerias e a ações desenvolvidas pela Campanha e pela Associação Mulheres pela Paz contribuem para a construção de uma sociedade mais democrática e livre de violência contra as mulheres.
O juiz da Vara de Violência da Violência Doméstica, Roberto Lorea, elogiou a contribuição do movimento feminista e das organizações de mulheres no combate à violência doméstica, além de enaltecer a iniciativa de construção de uma metodologia específica para trabalhar com mulheres e homens. Já a Secretária Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, Márcia Santana, destacou a iniciativa da Exposição, cujo foco é o reconhecimento da luta e do trabalho das mulheres que contribuem pela conquista de direitos e pela construção de políticas públicas para as mulheres”. A primeira dama do Estado, Sandra Genro, também prestigiou o evento, levando o abraço carinhoso do governador Tarso Genro às organizadoras do evento. A diretora do Memorial do RS, Simone Monteiro, afirmou ser uma honra o Memorial receber uma exposição que valoriza as mulheres que lutam pela paz e contra a violência doméstica.
‘1000 Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo’
São mil rostos femininos de 150 países que se tornaram ícones na luta pela paz, segurança humana e justiça e que foram indicados ao Prêmio Nobel da Paz 2005 pela associação suíça Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, com o apoio da Unesco. “Estas mulheres representam as lutas contra a violência e a discriminação, contra a opressão e a miséria, em inúmeros espaços e frentes”, destacou a presidenta da Associação Mulheres pela Paz, Clara Charf.
O Comitê do Prêmio Nobel 2005 não premiou o coletivo das mulheres, mas a articulação internacional que levou à seleção dos mil nomes mobilizou diferentes campos da sociedade, revelando a garra e a diversidade da atuação das indicadas, apesar dos múltiplos empecilhos que encontram no seu dia-a-dia.
Oficina debateu o conceito de paz
O impacto do conceito ampliado de paz no cotidiano das pessoas foi o centro dos debates dos dois dias de oficina que apontou, entre suas propostas, trabalhar de forma conjunta as ações de denúncias e as campanhas nacionais de combate à violência contra a mulher pelas Campanhas Ponto Final na Violência contra as Mulheres e Meninas, Lenço Branco e a Campanha Contra a Violência Doméstica e Pela Paz.
Ponto Final na Violência
Já a jornalista e ativista pelos direitos humanos das mulheres Telia Negrão enfatizou a necessidade do empoderamento das mulheres e do comprometimento dos homens e de toda a sociedade para enfrentar e eliminar o fenômeno da violência doméstica contra as mulheres. “Esta oficina – conclusão da etapa inicial da Campanha Ponto Final – estimula a participação e construção de conhecimento e práticas sobre violência doméstica e a violência contra as mulheres e meninas”, assinalou.
Telia afirmou que o foco dos trabalhos da Campanha está na defesa da promoção dos direitos humanos das mulheres, que são fundamentais para a mudança social sustentável. “A violência contra as mulheres é um problema estrutural da nossa sociedade e reflete o poder desigual entre homens e mulheres, que está presente tanto no âmbito público como no privado”. Acrescentou que são muitas as formas de violência contra a mulher e que as mesmas assumem dimensões e características de acordo com o contexto político, econômico, social e cultural.
De acordo com a psicóloga e secretária adjunta da Rede Feminista de Saúde, Maria Luísa Pereira de Oliveira, os dados de violência doméstica continuam alarmantes (41.532 mulheres vítimas de homicídios no período de 1997 a 2007 no país), apesar dos avanços no combate a este fenômeno verificados nos últimos anos. Maria Luísa destaca ainda que o objetivo da Campanha Ponto Final é acabar com a aceitação da sociedade de todas as formas de violência doméstica. “A campanha atua na prevenção e erradicação, envolvendo homens e mulheres, mexendo com as consciências, questionando padrões culturais e na busca de novas posturas”.
Relações de gênero
Trabalhar a masculinidade e violência tendo como foco a estratégia da prevenção foi um dos destaques apontados por Marcos Nascimento, do Instituto Promundo, durante os trabalhos da oficina ‘Redefinindo Paz – Violência Doméstica: construção de metodologia de educação popular feminista específica para trabalhar com mulheres e homens’. “Precisamos adotar estratégias para o enfrentamento à violência entre jovens e adultos (homens) como trabalhos nas escolas e a Campanha laço Branco, que atua pelo fim da violência contra a mulher em todo o país, com o engajamento dos homens”, afirmou Nascimento. A Campanha é desenvolvida em vários estados e, no Rio Grande do Sul, é coordenado pela Themis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero.
Carolina Caveira, da Rede Mulher de Educação, tratou das relações de gênero e as desigualdades nas categorias profissionais, na área social, política e entre homens e homens, homens e mulheres e entre mulheres e mulheres. Carolina argumentou que, na sociedade capitalista e patriarcal, o machismo e o racismo reforçam a não equidade e colocam a mulher numa situação de inferioridade.
As lideranças locais, que lotaram o auditório, ouviram atentas às falas do painel de abertura da exposição intitulado “Mulheres e Homens contra a Violência Doméstica e pela Paz”, que teve a coordenação de Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres pela Paz.
Para o aprofundamento do conceito ampliado de paz, Vera Vieira coordenou o início da oficina com uma dinâmica de reflexão sobre o conceito que cada participante tinha da palavra paz. Para Vera, “as frases escritas demonstraram o pleno entendimento de que paz vai além da oposição à guerra, isto é, seu exercício de dá na vida cotidiana”.
Em seguida, Clara Charf fez uma detalhada apresentação do histórico da Resolução 1325 da ONU, bem como as formas de utilização que vêm sendo feitas pelo movimento de mulheres de todo o mundo, o que oferece uma nova visão para o embasamento das atividades em prol da equidade de gênero, principalmente em trabalhos abarcando ambos os sexos.
Em seguida, houve um rico debate sobre o tema. “O que é paz?”, questionou Clara Charf, acrescentando que,”Paz é quando uma mulher, desempregada, sem recursos, luta para criar e educar seus filhos. É quando trabalhadoras e trabalhadores lutam por melhores salários e condições de trabalho. Não é somente a luta contra as grandes guerras, mas é a luta do cotidiano. A luta pela vida. É todo gesto e ações que as mulheres fazem ao defender uma causa no seu dia a dia”, apontou.
Posteriormente, ainda neste ano, a oficina e a exposição vão ocorrer em Salvador e Rio Branco, De acordo com Vera Vieira “para levar adiante essas ações, a Associação Mulheres pela Paz contou com a importante parceria nacional de algumas entidades, cujas representantes atuaram incisivamente no primeiro passo: em três sessões de trabalho com especialistas dessas organizações, foi discutido o conteúdo do Caderno de Educação Popular Feminista – Mulheres e Homens contra a Violência Doméstica e pela Paz”, um instrumento que serve de base para a construção dialógica da metodologia específica para trabalhar com ambos os sexos.
Foi um rico processo de aprofundamento na metodologia e na temática, com a participação de: Beatriz Cannabrava e Maria José Lopes Souza (Rede Mulher de Educação), Silvani Arruda (Instituto Promundo), Amelinha Teles (União de Mulheres de São Paulo) e Sonia Nascimento (Geledés – Instituto da Mulher Negra). Pela Associação Mulheres pela Paz, participaram Clara Charf e Vera Vieira, além de Walkíria Lobo Ferraz, que ficou encarregada da sistematização das sessões. Posteriormente, em cada uma das regiões, juntamente com representantes das parcerias locais, é feita a adaptação metodológica, levando em conta a realidade específica.
A primeira parte deste Caderno, intitulada Conceitos básicos, foca a Resolução 1325 da ONU, que amplia o sentido da palavra paz para além de oposição à guerra, rementendo-a para as ações que se dão no coditiano, buscando, também, aprofundar o entendimento sobre a origem e os desafios da violência contra a mulher. A segunda parte, intitulada Para ler, refletir e praticar, apresenta sugestões de dinâmicas de educação popular feminista e textos de apoio, com espaços para que as(os) participantes das oficinas exercitem o que foi discutido, assim como contribuam com práticas locais, em um processo dialógico de criação coletiva.
Registre-se, também, a criação de dois outros materiais de apoio às atividades – um folder e um pôster -, de autoria da jornalista Fernanda Pompeu e da artista gráfica Angela Mattos, cuja criatividade visual e escrita em muito contribuirá para a abordagem de tão desafiante tema.
Ao final do processo, vai acontecer um seminário nacional, na cidade de São Paulo, para consenso sobre a sistematização geral com toda a riqueza da construção coletiva nas três localidades de diferentes regiões brasileiras (Sul, Nordeste e Norte), e contará com a presença das principais lideranças envolvidas. Posteriormente, será lançada uma publicação para apoio às futuras atividades, além de um documentário em vídeo.
Clara e Vera estão certas de que “mulheres e homens vão arregaçar as mangas e pegar nas pás para construir, conjuntamente, esta proposta metodológica, ampliando os horizontes na luta contra a violência doméstica, em busca da concretização de um mundo de paz”. Aproveitam para fazer um agradecimento especial a todas as mulheres e a todos os homens, a todas as entidades parceiras, às organizações apoiadoras – Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo (Suíça), EED (Alemanha) e Fundação Avina -, bem como à patrocinadora Petrobras.