Paz não é só ausência de guerra. Paz é luta por moradia, educação, saúde, cultura, horizontes. Paz, com igualdade de oportunidades para todas e todos, é a base para justiça social e de gênero.
Leia entrevista com Vera Vieira, diretora executiva da Associação Mulheres pela Paz
Como as mulheres contribuem para a paz?
Vera Vieira – É no dia-a-dia que as mulheres tentam construir um mundo pacífico, por meio de ações voltadas para a cidadania transformadora, isto é, tornando-se seres que se modificam para melhorar o entorno em que vivem. Ao cuidar das pessoas que as cercam, na casa, no trabalho, na comunidade, elas exercem a paz cotidiana. Outros exemplos de construção da paz estão na promoção de uma educação sem violência e sem sexismo; na busca de relações de poder mais horizontais, na intervenção comunitária para implantação de creche, escola, hospital, área de lazer.
As mulheres querem paz apenas para as mulheres?
Vera – Não. A busca pela paz, na qual as mulheres estão empenhadas, visa favorecer ambos os sexos. Relações mais harmoniosas entre a mulher e o homem irá concretizar uma sociedade fortemente democrática, em que todas e todos sairão ganhando.
De que forma a Associação Mulheres pela Paz pode contribuir para a justiça social no Brasil?
Vera – No Brasil, os índices de desigualdade e injustiça social são elevadíssimos. Quem está na base da pirâmide social é a mulher, majoritariamente a mulher negra. Em termos de violência doméstica, a cada 15 segundos uma mulher é espancada. Quanto às diferenças salariais, a mulher recebe quase 40% a menos do que o homem, mesmo quando sua escolaridade é maior do que a do colega. Se for negra, recebe menos ainda. Outra estatística preocupante diz respeito ao número de mulheres chefes de família: 30%. Penso que a Associação Mulheres pela Paz deva continuar seu trabalho de educação para a paz, baseada na cidadania das mulheres e focada na juventude.
O Brasil não está em guerra. Por que falar em movimento pacifista?
Vera – A guerra não ocorre somente em conflitos armados. Sofrimento e morte também estão presentes no dia-a-dia: quando não há creche e escola suficientes; quando hospitais estão superlotados: quando falta luz, água, saneamento básico. Quando há violência física, emocional ou psicológica nas famílias; quando as mulheres não ascendem ao poder etc. Assim sendo, faz todo o sentido que existam movimentos pacifistas.
O que tem a ver o esforço pela paz com a luta pela igualdade de gênero?
Vera – A “guerra entre os sexos” clama por paz há milênios. Ela tem a ver com o sistema que coloca a mulher em posição de subordinação ao homem, provocando tristes conseqüências para a sociedade. Mulheres foram degoladas, sutiãs foram queimados em praça pública para que o tema das relações sociais de gênero ganhasse importância e fosse pautado no mundo. A busca da igualdade e equidade (entendida como a igualdade, respeitando-se as diferenças) entre mulheres e homens nada mais é do que a busca da paz para a humanidade.